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Flexione os joelhos e relaxe

(ou acertando a técnica de corrida natural com apenas duas lições)

O ser humano não é um animal aquático. Para nós a água, como habitat, não é natural. Quem nunca aprendeu a nadar irá se debater em desespero se cair numa piscina funda. Nadar exige o aprendizado de uma técnica própria. A terra é nosso habitat. Correr é uma atividade básica. Era fundamental para a sobrevivência de nossos antepassados antes da invenção da agricultura. Correr com boa técnica deve estar gravado em nosso DNA. Entretanto, quando um iniciante começa a pesquisar sobre corrida descalça (ou natural), é comum encontrar sites e materiais no exterior que focam excessivamente nos detalhes da técnica de corrida: como o pé deve tocar no solo; como os dedos devem estar posicionadas; qual a inclinação do quadril, do tronco, da cabeça; qual o tamanho do passo; qual a cadência e etc. Não que isto não seja importante, mas eu sempre achei que sendo uma “técnica” natural, ela iria surgir naturalmente. O principal argumento contra o aparecimento espontâneo da corrida natural é o fato de usarmos calçados, a maioria de calcanhar elevado, desde a infância. Ao usar tênis com calcanhar elevado, nosso cérebro teve que desenvolver outra forma de correr, que chamarei de “mata-borrão”. Nossos neurônios gravaram esta forma e irá levar um tempo para eles desaprenderem e readquirirem a forma natural. Lembrando e parafraseando o guru Ken Bob Saxton, se correr em asfalto e concreto não é natural, então correr nestes pisos usando tênis de borracha é menos natural ainda! Assim, o reaprendizado da forma natural é mais eficaz se você permitir que os elementos sensoriais do seu corpo, que estão obstruídos pelos calçados, sejam usados. Sendo assim, tire os calçados e deixei que os dois treinadores, que você tem na parte inferior do seu corpo, voltem a fornecer o feedback sensitivo ao seu sistema nervoso!

Infelizmente nem todos estão dispostos a tirar seus calçados, principalmente por questões sociais, e não terão o benefício destes sensores. Para estes considero muito importantes as duas lições que propus no título. Para os que se aventurarem totalmente descalços, elas NÃO são menos importantes. O argumento da forma mata-borrão ter sido gravada em nossos neurônios é muito forte. Além disto, eu sempre achei que correr mentalizando os detalhes da forma, tais como contar passos ou ver como o pé toca no chão, pesam contra a naturalidade e o relaxamento. Para mim, a função do cérebro é escolher o caminho e a estratégia. A função dos pés, pernas, enfim, do restante do corpo envolvido na corrida é executar o movimento “ouvindo” os sensores. Assim, o cérebro decide quando aumentar ou diminuir a velocidade mas quem decide a forma de correr nesta nova velocidade é o restante do corpo.

A primeira, e talvez a mais importante lição, é flexionar os joelhos. No momento do contato do pé com o solo o joelho deve estar flexionado. Ao flexionar os joelhos você transforma seu membro inferior numa mola ou amortecedor ao invés de uma barra rígida. O joelho flexionado muda tudo. Vários detalhes da técnica surgem por si só. É impossível aterrissar com o calcanhar! É impossível correr com o tronco inclinado acentuadamente! É muito difícil correr com baixa cadência! Se você ainda está conseguindo fazer alguma destas coisas é porque você não flexionou os joelhos suficientemente (ou não está correndo). Na dúvida flexione mais os joelhos. Flexionar (mais) os joelhos é tão importante que, além de ser útil para amortecer o impacto em qualquer situação, é útil para aumentar a segurança nas descidas íngremes, em terrenos escorregadios e para aumentar o conforto em pisos difíceis tais como as ruas de paralelepípedos. Veja os vídeos abaixo, do Ken Bob na esteira, para entender o que significa flexionar os joelhos. Sempre que eu começo a sentir o impacto, eu lembro do mantra: “flexione mais os joelhos”. Em situações extremas você deveria sentir como se estivesse correndo agachado (ou sentado). Não se esqueça deste mantra, ele faz milagres mas pode não ser o suficiente. Aí vem a segunda lição: o relaxamento.

É comum o relato de corredores que dizem ter feito a melhor prova da vida quando correram relaxados. Relaxe. Começe relaxando a panturrilha. Abaixo dos joelhos flexionados, o contato inicial do pé com o solo é usualmente na almofada, a panturrilha trabalha como amortecedor e depois deve relaxar pois toda a sola do pé deve tocar o chão distribuindo o peso corporal por uma área maior. Relaxe também os pés. O principal motivo para mantê-los tensos é a antecipação de dor. Não mentalize que o próximo passo será dolorido, mesmo que o piso seja áspero ou rugoso. Mas o relaxamento não se restringe somente as pernas e pés. Relaxe as mãos. Parece que temos uma herança dos antepassados quadrúpedes, relaxando as mãos é mais fácil relaxar os pés. Relaxe também ombros, braços, o quadril, enfim relaxe também a mente. Na minha opinião, a maioria das tensões são causadas pela antecipação infundada de problemas pelo cérebro. É por isto que não gosto de ficar mentalizando detalhes da técnica enquanto corro. A mente pode até dar uma ordem pontual para corrigir um detalhe mas logo deve desligar e deixar os sensores e a natureza trabalharem. Se estiver em dificuldade depois de flexionar mais os joelhos, lembre-se deste segundo mantra: “relaxe, relaxe e relaxe ainda mais”.

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Página modificada em 10 de outubro de 2017, às 13h07